Descansa, Seu Louro! O Galo foi campeão
O dia 5 de março de 1978 foi um dos dias mais dolorosos da história Atleticana que se tem registro. Não havia torcedor que saísse de casa sem pensar: “seremos campeões”. Era fato consumado; só precisávamos entender se seria por um placar magro ou por uma sonora goleada.
Seu Louro fez o caminho que quase todo belo-horizontino fez. Seu destino? Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão. Saindo da rua Boaventura Costa, José Vicente de Pinho — o Seu Louro — estava crente que voltaria bicampeão do Brasileiro. Mal ele sabia que só voltaria seis meses depois, com o coração cambaleado.
Contextualizemos o momento. No dia em questão, foi disputada a final do Campeonato Brasileiro de 1977. O Galo era o time a ser batido. Não era para menos: o esquadrão alvinegro contava com inúmeros nomes de peso. Dentre eles o ainda menino Reinaldo, que já era alçado como Rei do Mineirão e artilheiro com sobras do certame.
Além disso, o Atlético se via com uma campanha impecável. Impecável mesmo: o time chegara a final invicto, sem sofrer nenhuma derrota sequer. “Bobagem sofrer: o Galo será campeão e pronto, acabou”.
Antes mesmo do dia do jogo, Reinaldo foi retirado da final por uma manobra do tribunal desportivo da época. Sem seu maior artilheiro, o Galo continuou invicto — mas diferente do que pensem os desavisados, sem o título nacional. Nos pênaltis, desperdiçando três cobranças após o empate de 0 a 0, o Atlético era vice-campeão nacional. Começava aí o martírio alvinegro — e é aí que entra Seu Louro.
Depois do último pênalti perdido, o coração de Seu Louro pediu arrego. A dor era grande demais para aguentar aquela decepção. Um infarto, com apenas 32 anos, o acometera ainda no estádio. Ele só voltou para casa seis meses depois. Decepcionado e com o peito ferido — além da óbvia recomendação médica — , foi obrigado a deixar os estádios, mas sempre se fazendo presente através da sua genética e sua prole.
Seu Louro teve quatro filhos, três mulheres e um homem. Com eles, vieram nove netos. Todos eles, sem exceção, carregaram seu sobrenome e também a dor daquele 5 de março de 1978. Faltava algo para aliviar, todos sabiam.
Mas a dor era pesada demais e José Vicente de Pinho não aguentou esperar. Deste plano, partiu no dia 22 de agosto de 2004. Dele, restaram o sobrenome e o fardo.
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Mas Seu Louro nunca saiu daquele estádio, que não tem mais o concreto que ele tanto conhecia. Preso em seu passado, sua alma viu a queda de 2005 como se estivesse passando pelo verdadeiro inferno de Dante. Também viu alegrias e agiu, puxando o pé de Ferreyra junto com tantos outros Atleticanos do céu naquele 24 de julho de 2013. Ainda assim, sua alma precisava de uma libertação. Precisava do título Brasileiro.
Não precisa mais.
José Vicente de Pinho chutou as bolas para o gol junto com Hulk, Diego Costa, Keno, Savarino, Vargas e Sasha. Seu Louro esticou a mão de Éverson nas mais impossíveis defesas. Com Nacho e Zaracho, ajudou no baile argentino para cima dos adversários. Com Arana, Guga, Mariano e Dodô, cruzou para a cabeça de nossos atacantes. Com Réver, Alonso, Igor Rabello e Nathan desarmou os adversários. Com Jair e Allan, foi um cão de guarda. Cuidou do Mineirão, sua segunda casa, e ergueu a taça junto com o time alvinegro.
Agora, Seu Louro, está na hora de repousar. Sua alma já não tem nenhum peso que te segure na penumbra que os anos desde 1978 nos fizeram passar. Enquanto você finalmente descansa em paz, eu peço licença, vovô. Eu e toda a sua família vamos ali, comemorar nas ruas com tantas outras almas Atleticanas que, como o senhor, finalmente podem acalmar seus corações.
E com uma justa correção no título deste texto, me despeço: descansa, vovô Louro! Nós somos campeões.