Galo: Ainda somos os mesmos e seremos
O Atleticano ama o passado e ele sabe disso. Apesar de termos feito tudo que fizemos, essa lembrança é um quadro que não dói; pelo contrário: ele bate na alma como um gatilho pro sorriso, a automação da felicidade, o semblante de quem não tem preocupações na vida a não ser ver dois jogadores se chocando no ar e comemorando mais um gol.
O Atleticano por si só sabe que o amor é uma coisa boa. Ele ama Ronaldinho e Jô, Réver e Leonardo Silva, Reinaldo e Éder Aleixo, Allan e Jair, Hulk e Keno. O Atleticano ama homens que vestiram suas cores e ama também as próprias cores; sem precisarem estar incorporadas a algo ou alguém. Para ele, já basta: há o preto e o branco? Há o Galo; e se há o Galo, há o amor.
Para abraçar o seu irmão e beijar sua menina na rua, o Atleticano rói as unhas, controla seus sentimentos para que possa estar vivo daqui uns dias para que, enfim, possa distribuir sorrisos e gritos por aí — seja conhecido ou não. O Atleticano faz contas, numa clara tentativa de parecer racional, mas logo está pensando no momento em que se fará o seu braço, o seu lábio e a sua voz em uma só.
O Atleticano vê vindo no vento o cheiro de uma nova estação. A estação da conquista entalada, da taça que deveria estar em Lourdes há menos tempo que os malditos 50 anos, da história corrigida, do segundo sol, da consagração. A gente sabe de tudo que está ainda na ferida viva em nossos corações, mas essas mesmas feridas estão próximas de se fechar com o brilho da nova estrela que vem a brilhar.
O Atleticano sabe: viver é melhor do que sonhar, mas estamos vivendo e estamos sonhando, em uma mistura louca e passional que só o alvinegro sabe. O importante é que ainda somos os mesmos. E seremos.