Rafael Orsini
2 min readOct 25, 2021

Não há garganta preparada, Galo

O Atleticano tem orgulho de ter um vocabulário próprio. A Massa, a Camisa 12, a Galoucura, o Galo, o Vingador e tantos outros termos existem e estão sempre na ponta de bala em nossa garganta. É falar do Galo que essas e outras palavras sairão como um passe de mágica.

Mas o que fazer com a palavra que não quer sair? Você sabe qual é, não se faça de subentendido. Podemos dizer que estamos quase lá? Podemos falar que seremos… bom, isso não pode, isso zica. O Atleticano é orgulhoso de sua história, mas temeroso como poucos. Não é para menos.

Quantas vezes nos impediram de dizer essa mesma Palavra Que Não Pode Ser Dita? Quantas vezes não nos deram porradas que nos deixaram mudos em nossa própria dor? Quantas vezes não quisermos falar e o vento, o azar ou o fio de grama que foi trocado ontem impediu que nossa garganta se preparasse?

A verdade que não há garganta preparada, do Oiapoque ao Chuí, para um possível final feliz. Longe de ser um “desacostume”, tá mais para aquele receio, aquele fardo de 50 anos que tende a pesar em nossas costas calejadas.

A gente fala que “o Galo ganhou”, cantamos um bom “Pescador de Ilusões” e arrancamos o fôlego para cantar o vencer, vencer, vencer que ecoa nas arquibancadas alvinegras. A gente dá o sangue, dá a vida, dá a última letra pra que em campo o Galo saia vitorioso. A gente só não tem uma garganta preparada para um possível “é campeão”.

Sabe por que? Porque o Atleticano sabe o peso que essa palavra tem. O Atleticano sabe que o grito de “campeão” abrirá portas do paraíso, trará ao cego a visão, ao surdo a audição e ao ateu a crença. O Atleticano guarda todas as suas energias para liberar – com toda força – o grito que vem da alma. Mas a verdade é que o Atleticano, nenhum deles, está com sua garganta preparada para esse grito.

Antes da gente gritar, a gente vai ligar para o parente que mora longe e se emocionar. A gente vai olhar pro céu, para todo Atleticano que não pode estar presente fisicamente ali, e vai agradecer por ter influenciado nas cores que vestimos e defendemos. A gente vai abraçar o colega de arquibancada, o amigo do trabalho, o companheiro de vida. É só depois de tudo isso que a garganta, pronta para gritar, não terá mais força, substituindo o grito de “campeão” pela lágrima de quem foi forjado na luta e sabe o peso que foi chegar até aqui.

Ah, Galo… não há garganta preparada. Mas existem lágrimas e sorrisos desabrochando para quando esse dia chegar.

Falta pouco…

Rafael Orsini
Rafael Orsini

Written by Rafael Orsini

Escrevia sobre o Galo de 2011 a 2017. Hoje falo majoritariamente no Bluesky (rafaelorsini.com) e às vezes por aqui. Não se contente com padrões.

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